Está sendo assim desde o dia que comecei a correr provas de montanhas. Estava acostumada a fazer previsões para uma prova de rua e conseguir cumprir com folga. Já com essas provas cascudas quanto mais tempo eu acho que vou levar para concluir posso ficar bem tranquila que vou gastar um tanto a mais. Para uma controladora como eu isso é quase um desespero, essas colinas tem me tratado mais que terapia (acredito eu).
Tenho sempre em mente que todo mundo pode tudo é só querer, basta comprometimento e foco que acontece. Fiz tudo direitinho, não matei nenhum treino, me concentrei, etc etc e não teve jeito, ainda assim fui pega de surpresa e aprendi que numa prova dessas humildade aparecem em primeiro lugar, ouvi isso durante a prova e comecei a refletir mais forte em todos os sentidos, se você não é, vai aprender sofrendo.
Não tenho como descrever tudo que aconteceu durante esses 54 km e essas longas 7h48, mas nem preciso dizer que sofri não é mesmo? Posso resumir dizendo que a prova começou com uma friaca de 5 graus e uma névoa que prometia muito, mas em pouco tempo o sol entrou para a minha alegria e me deu a sensação térmica de 20 graus apesar de não ter chegado lá.
A chuva da semana deixou o percurso uma lama só, mais paracia um mangue com algumas partes em areia movediça, você afundava o pé com chance de voltar sem tênis (aconteceu com alguns). Isso me fez ter a certeza de que quem manda em provas deste tipo são os fenômenos da natureza ou até em alguns casos para ser um pouco mais dramática os desastres naturais. Isso é claro porque as condições de pista são definidas ali, e para alguém desequilibrado como eu, qualquer lama é motivo de queda. Perdi muito tempo no inicio escorregando e desabando na parte da escalada. Estava super protegida com duas blusas e calça então só ganhei um arranhão de leve no rosto e uma roupa enlamaçada.
Em termos gerais a subida é para deixar qualquer um sem fôlego, mas não deixei de correr em nenhum plano e até arrisquei algumas corridinhas ladeira acima já que perdi muito tempo com o pé na lama. Quando você termina a subida, você ganha um renovo, o cansaço desaparece por alguns instantes e você só pensa em recomeçar.
E para descer meu bem, não existe aquela história que todo Santo ajuda, só você se ajuda, você, você, você.
Fui que fui toda cheia de esperança de uma boa descida para recuperar o tempo, mas posso dizer que aquela descida mais subia que descia, e ainda me passa um engraçadinho e me pergunta ironicamente - está gostando da descida? enquanto estava me matando para subir. Só soltei de resposta um olhar fulminante e perdoei porque ele estava bem atrás de mim.
Até 42 Km fui tranquila (na medida do possível) depois disso me disse - Uma maratona, pronto, se terminasse aqui estaria ótimo. Mas foi bem aí que meu psicólogico atingiu e me arrastei até o interminável final. Contei com um parceiro, o Kleber que se arrastava junto comigo. Os últimos 3 km ainda consegui correr porque queria chegar mais do que queria desistir, apesar das duas vontades terem andado lado a lado no final. Assim foi, assim eu fui, assim eu terminei! Ainda bem que viva para contar história.
Entre erros e acertos volto mais experiente, e a cada minuto que passa tenho a certeza que foi um bom negócio. Os erros serão acertos na próxima, apesar de terem sido amadores como comer muito pé de moleque, tomar cápsula de sal no final e não carregar a mochila de hidratação na descida mesmo sabendo que o organizador da prova dá muito pouco alimento durante o percurso.
Volto com os pés no chão sabendo que se quero continuar nessa vida de meio do mato preciso me preparar ainda mais, porque o povo é sinistro, se preparam para não sofrer tanto. Preciso investir um pouco mais de tempo entre árvores e abismos. Tenho um sonho bem alto, e essa prova quase me fez desistir dele, mas ainda não é o momento para desistir.
Volto feliz porque oficialmente sou uma super maratonista e porque ganhei um trófeu de terceiro lugar na categoria, só tinha 5 pessoas, duas desistiram rs. Só que vou te falar, mesmo sendo a última a chegar na categoria, carrego com gosto, foi duro chegar até ali, aprendi muito e isso já vale toda gota de suor congelada pelo frio.
P.s:
Agradecimentos especiais a Marayse e Felipe Souto. Meu Deus, não tenho nem como agradecer todo apoio e estrutura. Passei momentos super agradáveis e especiais. Estou agora num débito gigante com eles, e vou cumprir feliz. Valeu Hoffman pela organização do encontro.
Aos meus amigos blogueiros, um obrigada mais que especial. Muitas dicas, força e pensamento positivo. Com certeza me ajudaram a chegar até o fim de mais essa conquista.
Meu marido foi um caso a parte, conto num outro momento. Mas também ganha agradecimentos apesar de tudo rs.
Antes de largar

Sobe, Sobe, Sobe!

No topo do mundo! Hora de voltar.

Chegando! Sonhei com isso durante quase 8 horas

Muita lama e medalha.

Já limpinha com o meu troféu.
